A Comunidade Virtual na educação corporativa

Uma nova etapa na evolução da educação corporativa

“Estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço no plano econômico, político cultura e humano.
Que tentemos compreendê-lo, pois a verdadeira questão não é ser contra ou a favor, mas sim reconhecer as mudanças qualitativas na ecologia dos signos, o ambiente inédito que resulta da extensão das novas redes de comunicação para vida social e cultural.
Apenas desta forma seremos capazes de desenvolver estas novas tecnologias dentro de uma perspectiva humanista”
(Pierre Lévy Cibercultura -2000).





As novas gerações: "Google! Ergo sum."

A geração atual, que está operando e já em boa parte liderando as nossas empresas pertence ao coorte entre 1980 e 1995 e foi denominada de Geração Y.
Segundo uma pesquisa da Hay Group, eles já ocupam mais de 20% dos cargos de direção das empresas e ajudam a abrir o caminho para a próxima geração de profissionais.
De fato esta geração consome muita tecnologia, sabe como manipulá-la e a usa para seu benefício.

É uma geração que aprendeu o conceito do virtual não como algo que não existe mas como protótipo de realidade. Manuel Castells define o virtual como o que existe “na prática” e o real como o que existe “de fato”. Portanto segundo Castells a realidade sempre foi virtual.
As pessoas da geração Y “... transferem as características do mundo virtual para o mundo físico, ou seja, eles não querem esperar cinco, 10 anos para chegar ao topo, querem isso agora porque sabem que têm a qualificação necessária”. (Sidnei Oliveira, consultor, escritor, palestrante e especialista em conflitos de gerações). A velocidade com a qual eles conseguem desenvolver no mundo virtual reflete nos desejo de crescimento rápido desta geração na empresa.
Outra característica desta geração é o desejo de investir na empresa se a empresa é disposta a investir no seu desenvolvimento profissional. Sempre segundo a pesquisa da Hay Group para 93% dos entrevistados, quanto mais a empresa investir em desenvolvimento profissional, mais atrativa será.
“O sistema de atração baseado apenas em cargos, salários e benefícios deve ser revisto e é preciso redesenhar o plano de carreira e pensar em job rotation, usar e incentivar a multifuncionalidade desses jovens e sempre oferecer a eles desafios e novas experiências profissionais”, evidencia Sidnei Oliveira.
Os próximos trabalhadores, os da geração Z, são ainda mais velozes, nascidos já sob influencia da internet, desenvolveram mais ainda a capacidade multifuncional. Não é incomum ver nossos adolescentes operarem ao mesmo tempo um Messenger no computador, um SMS no celular, em quanto estão assistindo TV.
São pessoas exigentes que querem um serviço 7x24 e não se surpreendem com as novidades tecnológicas. Para eles esta tecnologia é já uma commodity.
Esta capacidade de agir de maneira multifuncional e esta necessidade de comunicar-se são dois aspectos que ajudaram o proliferar das redes sociais fora e dentro as empresas.

No cenário internacional, o Brasil em particular, representa um dos países onde a as redes sociais ocupam um espaço cada vez maior como anunciam jornais como testemunham muitos jornais internacionais.
O Facebook no Brasil cresce a três dígitos estando o Brasil em primeiro lugar após a Índia com uma diferença de quase 50% .
No Brasil 48% da população está on-line. Isso significa em números absolutos, uma população maior que a Alemanha. E se contamos a população entre 15 e 49 anos este número chega a 74%. Se consideramos depois a conexão mobile no Brasil, encontramos que 72% dos usuários de Smartphone acessam internet todos os dias.  (fonte - Google).

Toda essa enfase dada as redes social alimenta outro aspecto comum a estas gerações: o desejo de protagonismo, ou como é definido por Paula Sibilia “o imperativo de visibilidade” incentivado pelos meios de comunicação e “exposição” cada vez mais acessíveis. Paula Sibilia no seu livro “o show do eu” fala de como a publicação de algo na rede (seja um blog, que um site ou outra forma de publicação) é no final um espelho para focar a atenção sobre a verdadeira obra: o próprio eu. Esse imperativo decorrente da intersecção entre o público e o privado parece ser uma conseqüência direta do fenômeno globalizante, que exacerba o individualismo. (Redes sociais na internet - Raquel Recuero).É preciso ser visto para existir no ciberespaço. É preciso constituir-se parte dessa sociedade em rede apropriando-se do ciberespaço e constituindo um “eu” ali. (Efimova, 2005).
Eu acredito que esta realidade se resume em uma frase: Parafraseando Descartes “Google ergo sum”. Se não estamos presentes no Google, não existimos.
Este desejo de mostrar-se e esta curiosidade exacerbada de conhecer o eu alheio se refletem nas orientações das diversões televisivas que focam nos realities shows e no mesmo sucesso das redes sociais internet onde o eu pode encontrar espaço, corpo, forma, através a sua representação no virtual.
Atenção. Não falamos de um alter ego. Isso já é passado. As gerações Y e Z já se acostumaram a fazer parte de uma comunicação onde a própria identidade é exposta de forma natural, através da própria imagem.
Hoje estamos na era da selfmania.
O sucesso de Facebook, Instagram, Tumbler, etc. no mundo testemunha como não existe mais a necessidade desta geração de se esconder atrás de um nik name ou de um avatar.
Pense bem, você que é da geração X ou um baby boomer. Teria motivos para nos usarmos um nome diferente para comunicar-se via telefone? Absolutamente não. Isso porque o telefone é um meio de comunicação funcional, assim como são agora estas redes sociais para a geração Y e Z.
Necessidade de comunicação, exigência de informações rápidas, úteis e sempre disponíveis, necessidade de investimento no próprio crescimento, desejo de protagonismo, exposição da própria imagem são todos aspectos importantes para serem considerados no desenvolvimento profissional destas gerações.
É neste terreno fértil que as redes sociais nasceram e se proliferaram no mundo todo.


A Comunidade Virtual como rede social corporativa

Esqueçamos por um momento a internet falemos apenas do ponto de vista sociológico.
Segundo Ilse Scherer-Warren Professora Titular na UFSC e autora de Redes de movimentos sociais. (São Paulo : Loyola, 2005v) As redes sociais podem ser divididas em três vertentes:
  • Rede Social Primária ou Informal: São redes de relações entre indivíduos, em decorrência de conexões pré-existentes, relações semiformalizadas que dão origem a quase grupos. Ela é formada por todas as relações que as pessoas estabelecem durante a vida cotidiana, que pode ser composta por familiares, vizinhos, amigos, colegas de trabalho, organizações etc. As redes de relacionamento começam na infância e contribuem para a formação das identidades.
  • Rede Social Secundária ou Global: é formada por profissionais e funcionários de instituições públicas ou privadas, por organizações não-governamentais, organizações sociais etc., e fornecem atenção, orientação e informação.
  • Rede Social Intermediária ou Rede Associativa: é formada por pessoas que receberam capacitação especializada, tendo como função a prevenção e apoio. Podem vir do setor da saúde, igreja e até da própria comunidade.
As redes sociais secundárias e intermediárias são formadas pelo coletivo, instituições e pessoas que possuem interesses comuns. Elas podem ter um grande poder de mobilização e articulação para que seus objetivos sejam atingidos.
São estas duas redes a intermediaria e a secundaria definidas por Ilse Scherer-Warren que reconheço como “comunidades”.

Agora vamos ver o reflexo disso no mundo da web.
Quando uma rede de computadores conecta uma rede de pessoas e organizações é uma rede social (Garton, Haythornthwaite, wellman Studying Online Social Networks. Journal of Computer Mediated Communication, n.3 Vol1, 1997).
Quando a conexão destas pessoas e organizações na internet se transformam em ajuda mutua, entendimento e compartilhamento de objetivos comuns, na minha opinião, esta rede social passa a ser uma “comunidade virtual”.
Se analisarmos a etimologia da palavra Comunidade encontraremos que provém do latim commune e communis, conjuntamente, em comum, conjunto de pessoas que se vinculam pelo cumprimento de obrigações comuns e recíprocas (Corominas, 1987) e que se utiliza desde meados do século XV (RODRÍGUEZ, 2007).Segundo Rheingold, comunidade virtual é uma rede eletrônica auto definida de comunicações interativas e organizadas ao redor de interesses comuns embora as vezes a comunidade se torne a própria meta. (Howard Rheingold – Virtual communities - 1993).
Já Pierre Lévy define a comunidade virtual como construída sobre afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca, independente das proximidades geográficas e das filiações institucionais. (LÉVY , 1999, p.128).Lévy afirma que os participantes das comunidades virtuais desenvolveram uma forte moral social, um conjunto de leis consuetudinárias – não escritas – que regem suas relações. (LÉVY , 1999, p.128).A moral implícita na comunidade virtual é em geral a da reciprocidade.
Se aprendermos algo lendo as trocas de mensagens, é preciso também repassar o conhecimento de que dispomos quando uma pergunta formulada on-line os torna úteis. A recompensa (simbólica) vem, então, da reputação de competência que é construída, em longo prazo, na “opinião pública” da comunidade virtual. (LÉVY , 1999, p.128). Aquela que Tara Hunt chama de capital social ou Fator Whuffie. (O Poder das redes sociais – Tara Hunt).



O Whuffie mede as relações entre as pessoas de uma comunidade medindo sua reputação, suas conexões, sua influencia, suas realizações passadas e atuais, sua confiança.

Por exemplo, podemos definir o pageranking do Google uma forma de medir o seu Whuffie. Quanto mais você for procurado no Google como busca de conhecimento sobre um determinado argumento tanto mais você será influente naquele argumento. Se você tem uma boa rede de conhecimentos a sua influencia se espalha cada vez mais e o Whuffie aumenta. O Whuffie ajuda muito no boca a boca.
Não é importante conhecer muitas pessoas, mas é importante que estas pessoas se conheçam entre elas.
Ter um whuffie alto torna-se, portanto muito importante tanto para os atores da comunidade quanto para a própria comunidade.

As redes sócias são uma realidade que não podemos negar ou censurar e que faz parte do processo evolutivo da sociedade seja ela pessoal ou ocupacional.
A proibição ou censura do uso de redes sociais nas empresas pode representar um sério problema para esta realidade de evolução e crescimento.

A Questão.
Mas então. Devemos abrir as portas das nossas empresas para o acesso às rede sociais de mercado?
Uma coisa é certa, esta comunicação sempre disponível e rápida aproxima as distâncias, facilita o estabelecimento de contatos, promove a colaboração entre colaboradores, o compartilhamento de conhecimento, a difusão das melhores práticas e potencia sinergias entre o capital humano.
O principal valor das organizações, não está apenas em seu capital físico, mas sim, em seu conjunto de talentos, idéias, capacidades, enfim, em seu capital intelectual. “Nenhum investidor compra ações da Microsoft ou da Intel em virtude das fábricas e equipamentos que possuem, mas sim por suas capacidades de gerarem novas idéias, habilidades e inovações capazes de gerar riqueza.” (Stewart, 1998, p.9).“Uma empresa criadora de conhecimento não opera em um sistema fechado, mas em um sistema aberto, no qual existe um intercâmbio constante de conhecimento com o ambiente externo.” (Nonaka, 1995).
A gestão do conhecimento torna-se portanto um elemento fundamental a ser gerenciado junto a rede social que gera, modifica e divulga este conhecimento.
Outro ponto importante que envolve a comunicação entre os colaboradores da empresa é o treinamento.
Segundo uma pesquisa da KPMG Consulting apenas 20% do treinamento nas empresas segue os canais oficias. 80% acontece através pesquisas na internet, leituras de manuais e procedimentos e comunicação com colaboradores e superiores.
Todas atividades onde a comunicação é a base e a rede social joga um papel fundamental.
Considerando isso volto a perguntar: deveríamos permitir o acesso às redes sociais nas nossas empresas? Desta forma melhorará o clima e a produção?
Segundo Gartner Group as Redes sociais corporativas hoje são fundamentais para a capacitação, desenvolvimento, e monitoramento dos profissionais de amanhã (Gartner Group - Redação da CIO Brasil Publicada em 03 de fevereiro de 2010)

Imaginem o impacto que poderia ser admitir dezenas de pessoas da geração Y e Z e dizer a elas que devem utilizar somente a maquina de escrever e o telefone fixo. O impacto da ausência das novas modalidades tecnológicas e das novas formas de comunicação na empresa é da mesma ordem.

Mas quanto o uso da rede social ajudaria realmente a empresa?
Quanto isso seria ao invés fonte de distração do colaborador no cotidiano laboral?
O que desejamos é que os benefícios da comunicação rápida e aderente ao modelo mental da nova geração possam ser aplicados à empresa como benefício mutuo tanto para o colaborador quanto para a empresa.
Precisamos pensar em criar uma comunidade virtual da empresa e não apenas abrir acesso dos colaboradores às redes sociais de mercado.

Na minha visão a Rede Social Corporativa deve identificar-se em uma comunidade virtual da empresa construída sobre afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca. Uma comunidade virtual capaz de permitir a comunicação entre os colaboradores no respeito de uma forma de comunicação coerente com as exigências deles, que permita uma gestão do conhecimento que distribua as informações de forma a atingir rapidamente as necessidades do colaborador. Uma comunidade virtual que permita de canalizar as várias formas de aprendizado em um programa conjunto de atividades individuais e colaborativas. Uma comunidade virtual que seja espelho das boas praticas para que estas se difundam velozmente na empresa. Uma comunidade virtual que consiga despertar um forte senso de pertencimento e uma identidade comum.
Segundo McMillan & Chavis o sentimento de pertença é identificado através de cinco atributos:
  • As fronteiras que definem quem faz parte dessa comunidade;
  • O sistema de símbolos comuns que une os seus membros;
  • A segurança emocional que advém da pertença e dos valores partilhados;
  • A identificação com a comunidade;
  • O investimento pessoal que resulta do compromisso para com a comunidade e que gera laços mais fortes entre os seus membros.
(McMillan & Chavis, 1986, p. 9 ).
Como seres sociais precisamos pertencer a algo no qual possamos contar. Este algo pode ser a empresa com sua preocupação para o nosso desenvolvimento profissional, com seus reconhecimentos das nossas habilidades, com seu um ambiente eficaz e acolhedor, e seus relacionamentos interpessoais efetivos.
Dubar destaca a importância do sentimento de pertença do trabalhador com a organização na qual desenvolve suas práticas profissionais, estando esse sentimento diretamente ligado ao reconhecimento profissional e social. (Dubar 1997) Não esquecemos que 93% dos entrevistados na pesquisa da Hay Group declarou que considera atrativa uma empresa que é disposta a investir neles.



Conclusão.
Para concluir, inspirando-me a um artigo publicado na revista EXAME (Exame - Outubro 2009), defini dez mandamentos, ou melhor, sugestões para as empresas que queiram montar sua plataforma para desenvolver a própria Comunidade Virtual.

1) Honrará suas iniciativas
A adesão à Comunidade Virtual deve ser planejada e duradora. De nada adianta criar a própria comunidade virtual e depois abandoná-la
2) Envolverás toda a companhia
Estratégias da web devem envolver todas as áreas que podem dar sugestões e até se beneficiar do novo canal de comunicação com o mercado.
3) Dormiras de olhos abertos
As Comunidades Virtuais têm um enorme poder de amplificação. Pequenos deslizes podem se tornar um pesadelo de imagem. O monitoramento deve ser constante.
4) Assumirá sua identidade
Participar de discussões anonimamente é expressamente proibido. Quem participa das conversas deve fazê-lo de forma oficial.
5) Terás ética nos blogs
A comunicação deverá sempre ser integra e inspirada a principio éticos
6) Não deletarás as críticas.
Na comunidade virtual pode existir comentários críticos como em qualquer comunidade e não devem ser censurados ma discutidos e mediados. O dialogo é sempre a melhor solução.
7) Ensinará os limites
É essencial criar políticas de uso da comunidade virtual para correto entendimento de todos os participantes.
8) Respeitarás o que publicaste
Mesmo que apague um assunto, ele continuará circulando. Melhor pensar bem antes de publicar.
9) Atrairás atenção com assuntos relevantes.
Não é porque a comunidade virtual está no ar que todos irão acessar. É necessário ter conteúdos interessantes.
10) Focará na difusão das melhores práticas
Sempre que acontecer algo de positivo deve ser compartilhado para que a melhor prática seja divulgada.

Leituras aconselhadas sobre o tema
  • A Sociedade em Rede – Manuel Castells
  • Do Público para as redes, A comunicação digital e as novas formas de participação social - Massimo di Felice
  • Gadget, você não é um aplicativo – Jaron Lanier
  • Cibercultura – Pierre Lévy
  • Amusing Ourselves to death, Public dicourse in the age of the show business – Neil Postman
  • Redes Sociais na Internet – Raquel Requero
  • O show do eu – Paula Sibilia
  • O poder das redes sociais – Tara Hunt

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