Populismo internetiano

Paula Sibilia no seu livro “o show do eu” fala de como a publicação de algo na rede (seja um blog, que um site ou outra forma de publicação) é no final um espelho para focar a atenção sobre a verdadeira obra: o próprio eu.

Cada vez mais testemunhamos na rede um desejo forte de protagonismo, ou como é definido por Paula Sibilia “um imperativo de visibilidade” incentivado pelos meios de comunicação e “exposição” cada vez mais acessíveis.
É preciso ser visto para existir no ciberespaço. É preciso constituir-se parte dessa sociedade em rede apropriando-se do ciberespaço e constituindo um “eu” ali. (Efimova, 2005).
Eu acredito que esta realidade se resume em uma frase: Parafraseando Descartes “Google,  ergo sum”.  Estou no google logo existo. Se não estamos presentes no Google hoje não existimos.
Este desejo de mostrar-se e esta curiosidade exacerbada de conhecer o eu alheio se refletem nas orientações das diversões televisivas que focam nos realities shows e no sucesso das redes sociais onde o eu pode encontrar espaço, corpo, forma, através a sua representação no virtual.
Atenção. Não falamos de um alter ego. Isso já é passado. Fazemos parte de uma era da comunicação onde a própria identidade é exposta de forma natural, através da própria imagem.
O sucesso de Facebook no mundo e especialmente no Brasil, testemunha como não existe mais o costume de se esconder atrás de um nik name ou de um avatar, como acontecia nos primeiros bate papo que nasceram na rede.
Além do mais, a rede social me torna visível, me torna popular.

Esta exigência de popularidade sempre fez parte da história humana. Queremos aparecer, o consideramos quase um nosso direito.
Séculos atrás os pintores eram veículo de popularidade. Faziam retratos de nobres e ilustres da Igreja. Depois, assim que surgiu a burguesia começaram a pintar famílias ricas.

No século passado as coisas não eram diferentes. Ao invés dos pintores da nobreza, igreja e burguesia, tínhamos televisão, rádio e jornais que publicavam políticos, atores e magnatas da finança.
Somente após a difusão da internet, aconteceu o milagre da democratização do direto de aparecer. Antigamente a popularidade era restrita a poucos. Hoje é ao alcance de todos.
Assim como um povo que foi reprimido por anos e conquista a liberdade acaba muitas vezes confundindo-a com libertinagem, o povo sempre excluído da popularidade acabou confundido-a com o populismo, uma exposição exagerada, voltada a obter o máximo do apoio popular. Um apoio que na internet se manifesta com os compartilhar, curtir, like, e outras formas de receber consenso do povo da rede.
Durante as eleições vimos uma participação grande de pessoas nas redes, tomando partido, expondo as própria ideias. O que demonstra como a rede possa se tornar um veículo importante da comunicação social e de sua evolução. Mas os exageros que vimos nestas eleições, os comentários levianos que lavaram muitas pessoas a sofrer processos por racismo e outros que demonstram imaturidade política e democrática,  são sinais evidentes de como este território livre que é a rede, ainda não é compreendido.
Com o tempo iremos acostumar-se com esta nova sensação de liberdade, aprenderemos seus limites, e entenderemos que a rede é apenas mais um espaço do nosso convívio social.

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